Abaixo, segue o depoimento de Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz 2006, por ter criado o microcrédito (fornecimento de empréstimos, sem garantias, aos pobres, principalmente mulheres para se iniciem os próprios negócios e saiam da miséria). Em 20 anos, 7,2 milhões de pobres foram beneficiados, com menos de 2% de inadimplência.
"Quando circulamos de carro por Daca (Capital de Bangladesh) somos atacados de todos os lados por mendigos profissionais. Nossa primeira reação é dar-lhes uma esmola. Por que não? Por alguns tostões, podemos aplacar nossa consciência. Quando somos abordados por um leproso com os dedos e as mãos devorados pela doença, ficamos tão chocados que imediatamente levamos a mão ao bolso e entregamos ao infeliz uma nota que para nós não é nada, mas representa uma fortuna para quem a recebe. Isso é útil? Não e na maioria das vezes é até danoso.
Aquele que dá fica com a impressão de ter feito alguma coisa. Mas não fez absolutamente nada. Dar dinheiro dispensa-nos tranquilamente de encararmos o verdadeiro problema. Oferecendo uma soma irrisória ficamos com a consciência limpa. Mas, na verdade, limitamo-nos a nos livrar provisoriamente do problema. Mas por quanto tempo?
A caridade não é uma solução, nem a longo nem a curto prazo. O mendigo passará para o carro seguinte e recomeçará. E acabará por voltar a ver seu "benfeitor", de quem agora precisa para viver. Se queremos sinceramente resolver o problema, precisamos nos envolver e dar início a um processo. Se o doador abrisse a porta do carro para perguntar ao mendigo qual é o seu problema, como se chama que idade tem, se solicitou assistência médica, qual é a sua formação, então poderia talvez prestar-lhe um serviço. Mas entregar-lhe uma nota é implicitamente convidá-lo a sumir de vista para nos deixar
Do ponto de vista do beneficiário, a caridade pode ter efeitos desastrosos. Em muitos casos, ela desmotiva o mendigo a sair de sua situação. Quanto ao doente, ele nem sequer tenta se tratar, pois a cura significaria a perda dessa fonte de dinheiro...
Em todos os casos, a mendicância priva o homem de sua dignidade. Dispensando-o de prover as suas necessidades, ela o incita à passividade. Não é suficiente ficar sentado e estender a mão para ganhar a vida?
Quando vejo uma criança mendigando, resisto ao impulso natural de dar. Preciso admitir que às vezes me acontece de dar a esmola, sobretudo quando a miséria humana é tão terrível - um doente, uma mãe cujo filho está à beira da morte - que não posso evitar levar a mão ao bolso e dar alguma coisa. Mas sempre que é possível reprimo esse impulso."
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"Quando queremos ajudar os pobres, normalmente lhes oferecemos caridade...A caridade não é absolutamente a solução para a pobreza. Ela apenas a perpetua, retirando dos pobres a iniciativa...Os filhos de pais que vivem do seguro-desemprego normalmente passam sua própria vida vivendo também do seguro-desemprego."
É isso aí janio, o pensamentodo Yunus, vai bem na direção do que eu falei na quinta Feira. Fiquei achando até que tinha sido muito dura na minha colocação passando uma ideia de dureza. Mas o que eu queria realmente dizer estar bem fundamentado no que você postou, foi muito oportuna essa postagem porque enriqueceu muito a discussão, e nos convida a fazer algo mais do que simplesmente da a esmola. Valeu cara um grande abraço
ResponderExcluirPaulo pinto
Caro Paulo,
ResponderExcluirPode até ser que a posição do Yunus não seja unanimidade entre os espíritas, mas o que ele fez (com base na PRÁTICA há mais de 30 anos, o que gerou uma filosofia) fala mais alto que qualquer outra opinião. É preciso querer resolver mesmo o problema e às vezes a esmola é o caminho mais fácil, a porta larga que a gente sabe onde vai dar.
Abs,
Janio
Caro Jânio,
ResponderExcluirO autor fala com maestria sobre o assunto e com o respaldo de um prêmio Novel da Paz.
Muito bom vôce ter encontrado esse texto e compartilhado conosco.
Paz e Bem!